sábado, 13 de fevereiro de 2016

NOSSA SENHORA DA GLORIA



 A CAPITAL DO SERTÃO 88 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, às fls. 382, de cujos dados se têm louvado instituições, professores e estudantes em suas indagações sobre o nosso Município, assevera que “Dados mais positivos sobre o primeiro aglomerado humano, deu início ao Povoado de Boca da Mata, não foram localizados”.
Mesmo compêndio, às fls 310, de referência ao Município de Gararu, afirma que a primeira ocupação desse território se deu por colonos portugueses vindos de Porto da Folha, os quais se refugiaram na Serra da Tabanga, apavorados pelo domínio holandês em Sergipe, iniciado em Março de 1637.
A ‘Boca da Mata’, como era conhecida a cidade de Nossa Senhora da Glória, a 126 quilômetros da capital, originou-se de uma parada para descanso de viajantes. Como existia uma densa mata naquele local os boiadeiros, que passavam tangendo o gado, preferiam esperar o dia chegar para continuar a viagem. Então, por volta de 1600 a1625, os ranchos deles acabaram formando a povoação, As primeiras casas do lugarejo foram a da Fazenda Boca da Mata, de propriedade de Antônio de Souza Correia, atual Avenida 7 de Setembro; a de Francisco Teles Trindade, conhecido por Xixiu, no lado direito do onde veio a ser construída a Capela; e a casa de Antônio Pereira de Souza, a primeira da Rua Velha, hoje Praça da Bandeira
A primeira denominação, dada justamente pelos viajantes, só foi mudada pelo pároco Francisco Gonçalves Lima, quando fez campanha com a comunidade para comprar a imagem de Nossa Senhora da Glória. O município que ficou conhecido como a “Capital do Sertão”, tem a maior feira da região e acabou atingindo um desenvolvimento maior que Gararu sua antiga sede.
A evolução política de Boca da Mata iniciou-se em 1922, quando a povoação passou a ser sede do 2º Distrito de paz de Gararu, já com a denominação de Nossa Senhora da Glória.
  • Pela Lei Estadual nº 1014, de 26 de setembro de 1928, foi criado o Município de Nossa Senhora da Glória, com sede na Vila do mesmo nome, ficando, desse modo, emancipado do Município de Gararu;

No dia 1º de janeiro de 1929, a vila teve como primeiro intendente João Francisco de Souza, que construiu a prefeitura, ele foi eleito para o período de 1930 a 1934, mas teve o mandato interrompido pelo movimento de 1930.
Prolongadas secas afetou o desenvolvimento; além das prolongadas estiagens ocorridas na região, Glória teve o progresso prejudicado também pela invasão dos cangaceiros comandados por Lampião. Muitos proprietários abandonaram as terras para se livrar dos saques dos bandidos, que também praticavam crimes hediondos, chegando a chacinar famílias inteiras.
Os cangaceiros recebiam ajuda de habitantes coiteiros que os ajudavam apenas com o interesse de comprar as terras abandonadas por preços irrisórios. O desenvolvimento de Glória só teve andamento com a construção da rodovia ligando o município a Nossa Senhora das Dores.
Com isso houve a facilidade de penetração da volante na região e a conseqüente debanda dos cangaceiros. A partir daí o município voltou a crescer, tendo a economia baseada na criação de gado e nas culturas agrícolas.
Finalmente, no dia 29 de março de 1938, a vila foi elevada à categoria de cidade. Com a criação de novas comarcas, em 1945,Glória passou a pertencer judicialmente a Dores. Em 24 de julho de 1957 foi criada a Comarca de Nossa Senhora da Glória.
O gloriense é um povo muito religioso, predominando no município o catolicismo.
A Igreja Matriz, que passou a ser paróquia em 1959 e teve como primeiro pároco José Amaral de Oliveira, foi construída em um terreno doado por Francisco Teles Trindade conhecido por Xixiu.
A RELIGIOSIDADE NA CULTURA GLORIENSE
O ser humano não é algo acabado, mas um ser em processo. Quando se pensa a cultura, deve-se tomar como pressuposto a noção de que o  pensamento está intimamente comprometido com a realidade, uma vez que o  indivíduo não  é furto  da abstração, mas encontra-se inserido no  tempo. A compreensão do espaço cultural é fundamental para que se compreenda a situação do homem e de seu próprio desenvolvimento existencial (Freire, 1987).
Em suas relações com o mundo, os homens manifestam-se como capacidade criativa, o que lhes permite uma transformação do meio natural em seu benefício. O mundo, portanto, não é apenas um espaço físico ao qual se acomodam, mas também um espaço cultural, objetivo de sua ação transformadora.
O ser humano é, pois, um ser histórico capaz de decidir, criar, transformar, produzir e comunicar. Assim, estabelece relação com o mundo, cria, amplia espaços e permanece integrado à realidade e ao ambiente concreto. Nessas relações, elaboraram costumes que correspondem a valores e tendências comportamentais do momento histórico no qual se insere o indivíduo e determinam sua identidade.
Durante o processo de desenvolvimento do Município de Nossa Senhora da Glória, elaboraram-se, portanto, costumes e modos de relação entre o homem gloriense e seu meio. Observando-se a historia do Município, contata-se com facilidade que a religiosidade é algo marcante e significativa para a cultura gloriense. De uma forma ou de outra, as pessoas do lugar sempre se viram a titulo de manifestação religiosa, seja ela vinculada a algum fato político ou social relevante, seja a alguma forma de festa ou comemoração coletiva. Note-se que a origem do próprio nome do Município esta ligada à participação de um religioso que, óbvio, sugeriu o nome de uma santa da igreja católica e mobilizou a comunidade para que a aquisição da imagem fosse feita. Até mesmo a instalação da agencia dos correios, em 1924, teve “intervenção” religiosa, uma vez que a atuação do Bispo de Aracaju na época foi essencial para levar a efeito desse projeto. E, inclusive, nos dias atuais, nas manifestações culturais para relevantes para as pessoas do lugar, apesar da forte influencia hedonista da cultura carnavalesca baiana, predominam ainda aquelas de motivo religioso, como e a Festa da Padroeira.
A primeira, tradição histórica do Município, que representa um momento único de integração entre as comunidades rural e urbana, realizou-se pela primeira vez em 06 de janeiro de 1904, no então povoado de “Boca da Mata”. Há cerca de vinte anos, essa festa contagiava e mobilizava toda a localidade, que aguardava ansiosa pelo momento suas roupas novas, compradas exclusivamente para a ocasião. Todos se preparavam quase que ritualisticamente para os festejos de Reis. Na semana anterior a festa, quando chegava o parque já mudava a rotina de vida das crianças do Município inteiro. Além dos parques de diversão havia bailes na AABB e na Associação Glória Esporte Clube, feira de comidas típicas, apresentação do grupo de Reisado, quermesses. Atualmente, reflexo do processo de globalização, as festas de rua movidas a trio elétrico e bandas de axé e forró eletrônico, ganharam espaço, e, embora pareçam ostensivamente brilhar mais, ainda não sufocaram a beleza e o encanto das manifestações mais pitorescas da cultura popular da localidade.
A segunda, outra festividade religiosa histórica do Município de grande significado para o gloriense, comemora a vinda da imagem de Nossa Senhora da Glória para o então povoado de “Boca da Mata”, em 15 de agosto 1906. Desde essa época, anualmente, durante a primeira quinzena de agosto, começam as atividades religiosas, que continuam até o dia 15. Na véspera, toda a comunidade católica se mobiliza para participar da tradicional Procissão dos Motoristas. No dia da festa às cinco horas da manhã, acontece a Alvorada Festiva, logo depois, a Missa Solene. Um costume que já se tornou tradicional é a eleição da Rainha da festa, selecionada mediante os resultados de uma campanha de arrecadação de donativos à paróquia, que ocorre ao longo do mês de agosto. No dia 15, à tarde, eleita a Rainha da festa todos saem acompanhando o andor com a imagem de Nossa Senhora da Glória numa gigantesca procissão pelas principais ruas da cidade. O ponto alto da festa é também a Queima de Fogos que ocorre à noite, após a missa na Praça da Matriz.
Estas duas festas são, sem duvidas, as manifestações da cultura gloriense mais significativas para as pessoas do lugar e ganham, no imaginário popular, vigor para se manterem constantes mesmo tímidas, diante de toda influência cultural de regiões hegemônicas como a Bahia, com seu processo de carnavalização que tomou conta do Nordeste. Ambas refletem a condição de fé do povo gloriense, um povo que constrói sua existência através da crença divina na superação dos obstáculos interposto pela realidade. A persistência de ambas traduz a índole de determinação desse povo na conquista de seu espaço e na expressão de sua identidade no Sertão Sergipano.


Jorge Henrique Vieira Santos Poeta e Professor

RIO SÃO FRANCISCO EM SERGIPE






Nossa Senhora da Glória Sergipe

CHÁCARA VOVÔ POPÓ

Esta foto da casa foi tirada em 2012 , agora já está diferente.