A CAPITAL DO SERTÃO 88 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, às fls.
382, de cujos dados se têm louvado instituições, professores e estudantes em
suas indagações sobre o nosso Município, assevera que “Dados mais positivos
sobre o primeiro aglomerado humano, deu início ao Povoado de Boca da Mata, não
foram localizados”.
Mesmo compêndio, às fls 310, de referência ao
Município de Gararu, afirma que a primeira ocupação desse território se deu por
colonos portugueses vindos de Porto da Folha, os quais se refugiaram na Serra
da Tabanga, apavorados pelo domínio holandês em Sergipe, iniciado em Março de
1637.
A ‘Boca da Mata’, como era conhecida a cidade de
Nossa Senhora da Glória, a 126 quilômetros da capital, originou-se de uma
parada para descanso de viajantes. Como existia uma densa mata naquele local os
boiadeiros, que passavam tangendo o gado, preferiam esperar o dia chegar para
continuar a viagem. Então, por volta de 1600 a1625, os ranchos deles acabaram
formando a povoação, As primeiras casas do lugarejo foram a da Fazenda Boca da
Mata, de propriedade de Antônio de Souza Correia, atual Avenida 7 de Setembro;
a de Francisco Teles Trindade, conhecido por Xixiu, no lado direito do onde
veio a ser construída a Capela; e a casa de Antônio Pereira de Souza, a
primeira da Rua Velha, hoje Praça da Bandeira
A primeira denominação, dada justamente pelos
viajantes, só foi mudada pelo pároco Francisco Gonçalves Lima, quando fez
campanha com a comunidade para comprar a imagem de Nossa Senhora da Glória. O
município que ficou conhecido como a “Capital do Sertão”, tem a maior feira da
região e acabou atingindo um desenvolvimento maior que Gararu sua antiga sede.
A evolução política de Boca da Mata iniciou-se em
1922, quando a povoação passou a ser sede do 2º Distrito de paz de Gararu, já
com a denominação de Nossa Senhora da Glória.
- Pela Lei Estadual nº 1014, de 26 de setembro de 1928, foi criado o Município de Nossa Senhora da Glória, com sede na Vila do mesmo nome, ficando, desse modo, emancipado do Município de Gararu;
No dia 1º de janeiro de 1929, a vila teve como
primeiro intendente João Francisco de Souza, que construiu a prefeitura, ele
foi eleito para o período de 1930 a 1934, mas teve o mandato interrompido pelo
movimento de 1930.
Prolongadas secas afetou o desenvolvimento; além
das prolongadas estiagens ocorridas na região, Glória teve o progresso
prejudicado também pela invasão dos cangaceiros comandados por Lampião. Muitos
proprietários abandonaram as terras para se livrar dos saques dos bandidos, que
também praticavam crimes hediondos, chegando a chacinar famílias inteiras.
Os cangaceiros recebiam ajuda de habitantes
coiteiros que os ajudavam apenas com o interesse de comprar as terras
abandonadas por preços irrisórios. O desenvolvimento de Glória só teve
andamento com a construção da rodovia ligando o município a Nossa Senhora das
Dores.
Com isso houve a facilidade de penetração da
volante na região e a conseqüente debanda dos cangaceiros. A partir daí o
município voltou a crescer, tendo a economia baseada na criação de gado e nas
culturas agrícolas.
Finalmente, no dia 29 de março de 1938, a vila foi
elevada à categoria de cidade. Com a criação de novas comarcas, em 1945,Glória
passou a pertencer judicialmente a Dores. Em 24 de julho de 1957 foi criada a
Comarca de Nossa Senhora da Glória.
O gloriense é um povo muito religioso, predominando
no município o catolicismo.
A Igreja Matriz, que passou a ser paróquia em 1959
e teve como primeiro pároco José Amaral de Oliveira, foi construída em um
terreno doado por Francisco Teles Trindade conhecido por Xixiu.
A RELIGIOSIDADE NA CULTURA GLORIENSE
O ser humano não é algo acabado, mas um ser em
processo. Quando se pensa a cultura, deve-se tomar como pressuposto a noção de
que o pensamento está intimamente comprometido com a realidade, uma vez
que o indivíduo não é furto da abstração, mas encontra-se
inserido no tempo. A compreensão do espaço cultural é fundamental para
que se compreenda a situação do homem e de seu próprio desenvolvimento
existencial (Freire, 1987).
Em suas relações com o mundo, os homens
manifestam-se como capacidade criativa, o que lhes permite uma transformação do
meio natural em seu benefício. O mundo, portanto, não é apenas um espaço físico
ao qual se acomodam, mas também um espaço cultural, objetivo de sua ação
transformadora.
O ser humano é, pois, um ser histórico capaz de
decidir, criar, transformar, produzir e comunicar. Assim, estabelece relação
com o mundo, cria, amplia espaços e permanece integrado à realidade e ao
ambiente concreto. Nessas relações, elaboraram costumes que correspondem a
valores e tendências comportamentais do momento histórico no qual se insere o
indivíduo e determinam sua identidade.
Durante o processo de desenvolvimento do Município
de Nossa Senhora da Glória, elaboraram-se, portanto, costumes e modos de
relação entre o homem gloriense e seu meio. Observando-se a historia do
Município, contata-se com facilidade que a religiosidade é algo marcante e
significativa para a cultura gloriense. De uma forma ou de outra, as pessoas do
lugar sempre se viram a titulo de manifestação religiosa, seja ela vinculada a
algum fato político ou social relevante, seja a alguma forma de festa ou
comemoração coletiva. Note-se que a origem do próprio nome do Município esta
ligada à participação de um religioso que, óbvio, sugeriu o nome de uma santa
da igreja católica e mobilizou a comunidade para que a aquisição da imagem
fosse feita. Até mesmo a instalação da agencia dos correios, em 1924, teve
“intervenção” religiosa, uma vez que a atuação do Bispo de Aracaju na época foi
essencial para levar a efeito desse projeto. E, inclusive, nos dias atuais, nas
manifestações culturais para relevantes para as pessoas do lugar, apesar da
forte influencia hedonista da cultura carnavalesca baiana, predominam ainda
aquelas de motivo religioso, como e a Festa da Padroeira.
A primeira, tradição histórica do Município, que
representa um momento único de integração entre as comunidades rural e urbana,
realizou-se pela primeira vez em 06 de janeiro de 1904, no então povoado de
“Boca da Mata”. Há cerca de vinte anos, essa festa contagiava e mobilizava toda
a localidade, que aguardava ansiosa pelo momento suas roupas novas, compradas
exclusivamente para a ocasião. Todos se preparavam quase que ritualisticamente
para os festejos de Reis. Na semana anterior a festa, quando chegava o parque
já mudava a rotina de vida das crianças do Município inteiro. Além dos parques
de diversão havia bailes na AABB e na Associação Glória Esporte Clube, feira de
comidas típicas, apresentação do grupo de Reisado, quermesses. Atualmente,
reflexo do processo de globalização, as festas de rua movidas a trio elétrico e
bandas de axé e forró eletrônico, ganharam espaço, e, embora pareçam
ostensivamente brilhar mais, ainda não sufocaram a beleza e o encanto das
manifestações mais pitorescas da cultura popular da localidade.
A segunda, outra festividade religiosa histórica do
Município de grande significado para o gloriense, comemora a vinda da imagem de
Nossa Senhora da Glória para o então povoado de “Boca da Mata”, em 15 de agosto
1906. Desde essa época, anualmente, durante a primeira quinzena de agosto,
começam as atividades religiosas, que continuam até o dia 15. Na véspera, toda
a comunidade católica se mobiliza para participar da tradicional Procissão dos
Motoristas. No dia da festa às cinco horas da manhã, acontece a Alvorada
Festiva, logo depois, a Missa Solene. Um costume que já se tornou tradicional é
a eleição da Rainha da festa, selecionada mediante os resultados de uma
campanha de arrecadação de donativos à paróquia, que ocorre ao longo do mês de
agosto. No dia 15, à tarde, eleita a Rainha da festa todos saem acompanhando o
andor com a imagem de Nossa Senhora da Glória numa gigantesca procissão pelas
principais ruas da cidade. O ponto alto da festa é também a Queima de Fogos que
ocorre à noite, após a missa na Praça da Matriz.
Estas duas festas são, sem duvidas, as
manifestações da cultura gloriense mais significativas para as pessoas do lugar
e ganham, no imaginário popular, vigor para se manterem constantes mesmo
tímidas, diante de toda influência cultural de regiões hegemônicas como a
Bahia, com seu processo de carnavalização que tomou conta do Nordeste. Ambas
refletem a condição de fé do povo gloriense, um povo que constrói sua
existência através da crença divina na superação dos obstáculos interposto pela
realidade. A persistência de ambas traduz a índole de determinação desse povo
na conquista de seu espaço e na expressão de sua identidade no Sertão
Sergipano.
Jorge Henrique Vieira Santos Poeta e Professor
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